Quando
uma pessoa exerce uma determinada profissão e o faz com esmero e dedicação
diz-se que ela possui vocação para esta profissão. É o caso, por exemplo, dos
médicos, advogados, engenheiros, etc., nestes casos e em outros semelhantes
seria melhor dizermos que estas pessoas têm inclinação para o exercício da
profissão escolhida e, deixarmos o termo “Vocação”
para ser usado exclusivamente num contexto espiritual ou religioso.
Partindo dessas considerações, vamos nos
restringir em nossas considerações as vocações ao sacerdócio e a vida
consagrada sem negar a vocação fundamental à santidade e a vocação ao
matrimônio e ao laicato engajado e consciente.
Sendo cristão e membro da Igreja católica é
a partir do que aprendi em minha vivência no seio dessa Igreja que prosseguirei
com essa análise, sabendo, no entanto que vocacionados encontram-se em outras
igrejas e religiões, inclusive nas religiões não-cristãs.
Toda a vocação inicia-se com um chamado de
Deus. No AT é conhecido o episódio da vocação de Samuel, este ainda
pré-adolescente, por três vezes escuta o chamado de Deus enquanto dormia,
pensando que era Eli que o chamava apresenta-se ao sumo-sacerdote que reconhece
ser aquele chamado a voz de Javé e após a terceira chamada orienta o menino
para que se ponha a disposição do Senhor. No NT são inúmeras as passagens que
nos relatam o chamado de Cristo àqueles que escolheu para serem seus apóstolos.
Muitos outros exemplos podem ser encontrados quer no AT, quer no NT; outros
ainda podemos encontrar na vida dos santos, por exemplo, em São Francisco.
Na vocação é importante o chamado de Cristo
e seu valor tem sido destacado por muitos e, não poderia ser diferente, pois
toda a iniciativa pertence ao Senhor, mas, não podemos deixar de reconhecer também
a importância da resposta, pois sem ela o chamado perder-se-ia no vazio.
Quando o chamado é respondido, estabelece-se
entre Cristo e o vocacionado uma ralação dialógica fundamentada na Fé e no
Amor. Esta é uma relação pessoal, de pessoa para pessoa, pois não existe
vocação em geral, não existe chamado comum para muitos, o chamado é dirigido a
uma determinada pessoa, é um chamado pelo nome. Quando escuto a voz do Senhor a
me chamar, escuto-a chamando o meu nome; não o chamado a um grupo ao qual pertenço.
Assim sendo, minha resposta me compromete, é um comprometimento de toda a minha
vida, de todo o meu “eu”.
O Chamado vocacional não acontece num de
repente, é preparado por toda uma caminhada; catequese, participações
litúrgicas, devoções diversas, exemplos e conselhos de quem vive com mais amor
o evangelho ou, que se dedica a prática da misericórdia, etc. Este chamado
acontece quando num determinado momento, o vocacionado sente-se atraído para
uma vida mais exigente e com características que enfatizam a oração e a
dedicação ao próximo.
Este chamado nem sempre é reconhecido como
tal, a voz de Cristo nem sempre é ouvida com clareza, pois vem misturada com as
vozes do ambiente em que se vive, com as vozes do mundo. É preciso recorrer-se
a ajuda de alguém mais experiente no viver espiritual para a ajuda no
discernimento e para a resposta. Se for negativa, toda a história desta vocação
se encerra, pelo menos no que diz respeito a este convite, pois Cristo pode
insistir; se for positiva, deve comprometer toda a vida, todo o próprio “eu” e
a caminhada até então empreendida toma outro rumo, quando a própria vontade vai
se apagando e a vontade de Deus passa a dar a direção da caminhada.
Dificuldades serão encontradas durante toda
a vida, sendo estas muitas e por vezes aparentemente insuperáveis; vem a
tentação de interromper a caminhada e retornar aquela de um cristão, vivendo no
dia a dia, esquecendo-se da própria vocação, pois afinal no viver do dia a dia,
também poderemos nos realizar e colaborar com a realização do próximo.
O vocacionado em seu caminhar rumo a sua
auto realização ou mais precisamente rumo a santidade, deve fazê-lo num clima
de incessante diálogo com o Cristo. Neste diálogo a importância de quem convida
é tão grande quanto a importância de quem é convidado. Eu e Cristo somos
igualmente importantes, pois se um dos dois faltar o diálogo não acontece.
No dialogar o vocacionado deve ser fiel a
sua primeira resposta, no seu comprometimento amoroso para com Cristo, a
fidelidade e a perseverança são indispensáveis. É um diálogo contínuo e sem
interrupções, diariamente o vocacionado deve afirmar o seu amor para com o
Cristo, mas esse amor não pode ser expresso apenas com palavras, mas com atos
ou, melhor com a vida no amor aos irmãos, principalmente os mais necessitados,
pois como disse Cristo “o que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o
fizestes”.
Na vocação o chamado é iniciativa de Cristo,
mas a resposta depende exclusivamente do vocacionado, embora dependendo em sua
concretização da Graça de Cristo e do acompanhamento do Espírito Santo. Sendo
vocacionados, nossa responsabilidade é grande, pois a missão que nos é
atribuída juntamente com nossa vocação, nos a aceitamos com Consciência e
Liberdade, não nos é forçada.
O executar desta missão que é única,
diferente para cada um dos vocacionados, vai depender da resposta e da decisão
a ser tomada em cada momento, em cada circunstância. Na medida em que
livremente vamos tomando nossas decisões e superando os obstáculos que se colocam
a nossa frente, crescemos espiritualmente e ao concretizar a missão que nos foi
determinada pelo próprio Deus, contribuímos para a edificação do Corpo Místico
de Cristo.
Sendo religiosos não gozamos de privilégios
espirituais, devemos ser exemplos no seguimento de Cristo, sendo sacerdotes,
somos servidores na construção do Reino.
A realidade vocacional é essencialmente dialógica.