Após a
Ressurreição, conta-nos a Bíblia que Cristo apareceu diversas vezes a seus
discípulos, mas o que notamos nestas narrativas é que seus discípulos, apesar
de terem convivido intensamente com ele, de pronto não o reconheceram.
Assim como os discípulos de Emaus que o
confundem com um estrangeiro, apesar de suas palavras acalentarem seus
corações; Maria confunde Cristo com o jardineiro; os apóstolos reunidos no
cenáculo pensão ser um fantasma; João, juntamente com Pedro, corre até o
sepulcro para verificar o que havia acontecido e o encontram vazio.
No entanto uma única palavra ou um simples
gesto de Cristo abre-lhes os olhos e fazem com que reconheçam o Salvador. Assim
os discípulos de Emaus o reconhecem no partir do pão; Maria quando lhe chama
pelo nome; os apóstolos quando lhes dirige a palavra; João crê em sua
ressurreição quando vê o sepulcro vazio e a mortalha que envolvia seu corpo,
dobrada e separada do véu que lhe cobria o rosto.
Por que aqueles que gozaram da intimidade
de Jesus, não o reconheceram imediatamente? Talvez pela imensa dor de sua
morte, que acabara com toda a esperança num Messias por demais humano ou, pelas
razões de um racionalismo estéril que nos ensina ser a morte o término de tudo?
O que podemos afirmar é que após terem sido abertos seus olhos, os discípulos
passaram a ver, não mais com os olhos da carne e da razão, mas, com os olhos da
Fé. Fé num Messias não somente humano, mas, também divino.
Na Bíblia encontramos outras narrativas das
aparições de Cristo, em todas elas verificamos que inicialmente Cristo não é
reconhecido, mas após um gesto ou uma palavra os discípulos têm os olhos
abertos, não pela razão, mas pela Fé. O mesmo continua a acontecer na Igreja e
em nossa vida quando reconhecemos a presença de Cristo, fortalecendo nossa Fé e
nossa Esperança.
Conta-se que Santa Isabel se dedicava tanto
aos mais necessitados que seu amor não tinha limites. Certo dia, em que cuidava
dum mendigo, afim de que pudesse atendê-lo melhor colocou-o na própria cama.
Vendo isto, alguém com o coração cheio de inveja e ódio correu a contar ao Rei.
Este se dirigiu aos aposentos da rainha, a fim de castigá-la, mas em sua cama
encontrou não o mendigo, mas o próprio Cristo. Passagens semelhantes podem ser
encontradas na vida de outros santos, pois o santo ama Cristo amando seus
semelhantes.
Realidade ou pura fantasia, o relato acima
nos recorda das palavras de Cristo que diz “tudo
o que fizeres a um destes pequeninos a mim o fareis”, se encontramos
dificuldades em reconhecer a presença real de Cristo na Eucaristia, maiores são
as dificuldades em reconhecê-lo em nossos irmãos, principalmente nos bêbados,
nos mendigos, em nossos inimigos, naqueles que nos perseguem, nos que nos são
antipáticos.
Em determinados momentos de nossa vida a
presença de Cristo nos é mais evidente: isto acontece, por ocasião de uma
grande alegria ou tristeza ou, num momento de reflexão e de oração, mas,
sobretudo quando num encontro mais íntimo e profundo nos colocamos na presença
de nosso irmão sofredor, carente de nosso amor.
O ser cristão exige muito de nós, pois ser
cristão é amar sem limites, um amor que vê no próximo o próprio Cristo
ressuscitado. Ao amar, o cristão deixa-se levar por sua Fé aos braços do
próprio Cristo quando ama e atende as necessidades de seu próximo. Não é a Razão, mas a Fé que guiada pela Esperança
nos permite encontrar a Cristo em
nossa vida encontrando-o em nossos irmãos.
As aparições de Cristo ressuscitado não se
limitaram àquelas relatadas na Bíblia, mas continuam a acontecer sempre que
alguém ame seu irmão com aquele amor que Cristo nos amou ao se entregar por nós
no madeiro da Crur.
Se quiseres
colocar Cristo em sua vida ame com todo o seu ser o próximo, seja amigo ou
inimigo, conhecido ou desconhecido, mas Ame-o.