Uma das principais características do
cristianismo é a crença no Mistério da
Santíssima Trindade. Pelo simples fato de ser um mistério, não comporta uma
solução ou explicação. Antes é preciso vivê-lo e respeitá-lo, mas nada obsta que
procedamos algumas reflexões com a finalidade de penetrarmos neste mistério.
Conta a lenda que certo dia estava Santo
Agostinho a meditar, enquanto caminhava numa praia quando sua atenção foi
despertada pela figura de um menininho que tendo cavado um buraquinho na areia,
ia até o mar e enchia uma conchinha de água e retornava para depositar a água
no buraquinho. Interrogado por Santo
Agostinho sobre o que estava a fazer, o garoto respondeu que ia pegar toda a água
do mar e depositá-la naquele buraquinho, ao que S. Agostinho dando uma gostosa
gargalhada disse: ó garoto não vê que isso é impossível? Ao que o garoto
retrucou: mais impossível é você entender o Mistério da Santíssima Trindade e desapareceu.
Verdadeira ou não esta historieta mostra
como é difícil a compreensão deste mistério e, foi S. Agostinho um dos que mais
se debruçaram a refletir sobre o mesmo. Cientes desta dificuldade e baseados no
que já foi escrito vamos proceder a três diferentes reflexões.
1. Deus Pai é o
ser infinito e perfeito, para citarmos apenas dois de seus atributos. Pois bem,
o Pai ao conhecer-se o faz de maneira total e perfeita. Seu pensar inclui todas
as suas perfeições e o seu pensamento é igual a si próprio, inclusive dotado de
existência e de natureza divina, mas não se confunde com o próprio Pai, pois o
pensado é diferente daquele que pensa, na Trindade é uma pessoa, o Logos de que nos fala S. João. “No
princípio era o Verbo (LOGOS) e o
Verbo estava em Deus...” Daí podemos dizer que o filho procede do Pai, mas
não é criado pelo Pai, pois lhe é coeterno.
-
O Pai é o Ser, o Filho é o Verbo e o Espírito Santo? O Pai ama o Fílho infinitamente; o Filho ama
o Pai infinitamente. Este amor do Pai ao Filho e do Filho ao Pai se concretiza
na pessoa do Espírito Santo que é Amor. Daí dizermos que o Espírito Santo
procede do Pai e do Filho e as três pessoas Pai, Filho e Espírito Santo embora
sendo três e não se confundindo entre si, é
um só Deus.
2.
– Perante a um mistério, não devemos tentar resolvê-lo, iremos fracassar porque
o mistério não comporta solução. O
importante é nos relacionar com o mesmo, vivenciar o mistério. Isto é ainda
maia importante quando nos defrontamos com o Mistério da Santíssima Trindade.
O Mistério da Santíssima Trindade é um
mistério de amor e assim deve ser vivenciado: o Pai nos criou por amor, não
apenas como homens, mas como pessoas, pois nos chama a existência por nosso
nome. Na oração que Cristo nos ensinou dizemos Pai nosso..., assim devemos
sempre nos dirigir ao Pai como filhos amorosos, obedientes e dedicados. Pois ao
Pai devemos nossa própria vida, nossa existência. O Pai é Deus criador.
Jesus Cristo é nosso irmão, nos ensina com
suas parábolas, suas admoestações, suas explicações, mas principalmente pelos
seus atos e sua aceitação do sofrimento e da morte para nossa Redenção. Cristo
havia dito não existir maior amor do que dar a vida por seus amigos, mas, ele
próprio se superou pois na Cruz não só entregou sua vida por seus amigos, mas
também por seus inimigos. Não satisfeito quis permanecer conosco e nos deixou a
Eucaristia. Jesus Cristo é nosso irmão e nosso Salvador. O Filho é Deus Redentor.
O Espírito Santo nos acompanha
em nosso caminhar, dirige os passos de toda a Igreja evitando que cometa erros
e desvie de seu caminho; dirige também os nossos passos, para não cairmos em
tentação e, silenciosamente, nos indica o caminho da Santidade. Não o vemos,
nem o sentimos, mas esta conosco todos os dias desde nosso batismo, porém
respeita nossa liberdade, mostra-nos o caminho, mas, não nos força a segui-lo. O Espírito Santo é o Deus Santificador.
Deus
trino e uno Pai, Filho e Espírito Santo, relacionando-nos com cada uma das três
Pessoas estamos nos relacionando com o próprio Deus. Este Mistério é grande e,
vivenciá-lo é que nos torna cristãos. E, é pelo sinal da Trindade, o sinal da
Cruz que somos batizados e reconhecidos como tal.
3. Monoteísmo ou Politeísmo? Afirmar a
existência de muitos deuses como no politeísmo, nos parece incoerente, pois uns
limitariam os outros ou, deveria haver uma hierarquia entre eles e então
necessariamente somente um é que mereceria ser chamado de Deus. Porém,
aceitando a existência de um único Deus eterno, perfeito e imutável, como
explicar a criação?
No mundo em que existimos não encontramos nem
a unidade separada da multiplicidade, nem esta sem estar relacionada com a
unidade. O que encontramos sempre é a multiplicidade no seio da unidade ou esta
existindo na multiplicidade. Senão vejamos:
Um objeto material qualquer é sempre
composto de partes, por exemplo, por exemplo, numa mesa encontramos as pernas
da mesa e o seu tampo. Em qualquer objeto confeccionado pelo homem ou
pertencendo à própria natureza temos a matéria da qual é feito e a forma que o
identifica.
Num organismo, por mais simples que seja,
em seu interior encontramos os órgãos que o compõem e, nestes as células e
moléculas. O homem é um todo espírito-corporal em que o corpo e a alma não
podem se separar, pois causaria a destruição do homem.
Uma sociedade é constituída por vários
indivíduos que se unem por vínculos sociais e perseguem uma mesma meta. Enfim
por toda a parte encontramos a resolução da multiplicidade na unidade, não a
unidade independente da multiplicidade, nem esta daquela.
O Deus para ser causa e razão deste mundo
não pode ser nem uno, nem múltiplo, mas, nele a multiplicidade deve ser
resolvida na unidade de uma maneira mais perfeita e completa como acontece na
Santíssima Trindade, onde a unidade de um Deus contém em si a multiplicidade
das Pessoas.
Estas e outras reflexões podem nos ajudar
nossa compreensão deste Mistério, mas nunca é demais afirmar que somente
através da Fé viva poderemos
experenciá-lo,
Creio
na Santíssima Trindade – Um Deus em três pessoas